sexta-feira, 14 de agosto de 2009

No fim de mais um dia ela olhou à sua volta, cruzou os braços atrás da cabeça e começou a chorar. Deitada no sofá velho, ficou a olhar para o telemóvel, aquele bicho estúpido do qual ela nunca se separava e que na verdade pouco ou nada lhe trazia. Nas últimas horas tinha trocado mensagens com algumas pessoas, mas nenhuma delas se importava verdadeiramente com ela. Agora que ela precisava realmente de falar com alguém, não havia ninguém. Conseguia ouvir a voz dos pais lá em baixo, mas isso não queria dizer que estivesse acompanhada, muito pelo contrário. Há muito tempo que os pais a tinham abandonado, ainda que não soubessem. Por muito que o quisesse negar, estava realmente só. Nem a família nem os amigos conseguiam chegar até ela. Dar-lhe um abraço e trazê-la de volta era agora algo de impossível, porque ela tinha passado uma barreira que eles não conseguiam ver, nem transpor.
Mas o pior não era estar só, era o porquê de estar só. Antes pensava que a culpa era dos outros, os outros é que não a compreendiam, os outros é que não gostavam suficientemente dela, os outros é que não a cativavam. Agora ela sabia que não era assim. Ela tinha-se tornado numa pessoa diferente, muito diferente da que os outros conheciam e gostavam, ainda que não demonstrasse. A miúda sorridente e bem-disposta era agora uma máscara que usava para evitar perguntas e preocupações. Sim, evitar, porque ela não queria estar com ninguém agora, não podia. Não eram os outros que fugiam, era ela que os afugentava. E isso matou-a, porque apesar de ela o querer, odiava estar só.
Ela continuou com os braços atrás da cabeça, enquanto as lágrimas corriam pela sua cara e pensava que tão cedo não sairia daquele buraco que ela própria escavara.

3 comentários:

S:F:R disse...

If we would build on a sure foundation in friendship, we must love friends for their sake rather than for our own.

greenie disse...

Quem és tu? Who are you?

S:F:R disse...

I am just two by two. Sometimes I am hot. Sometimes I am cold. I am the parent of numbers that cannot be told. I am a gift beyond measure, a matter of course. I am given with pleasure always of course. What am I?